domingo, 22 de março de 2015

A lágrima mais pesada é aquela que não cai

Tristeza, tédio, falta de interesse em tudo ou quase tudo, meias palavras e um pesar em mentir ao responder 'está tudo bem'.
Choro eufórico e ansiedade intermitente, assim como o desejo de respirar e sorrir. 
Tudo me incomoda, tudo me deixa sem ânimo, melancólica, angustiada. Não sinto prazer em nada que faço e tudo que tenho feito não tem sido o que me proporcionasse prazer.
Por tudo e qualquer coisa surge um desejo imenso de me deitar e apagar, sumir dentro do escuro dos meus olhos. Chega a ser quase que insuportável sentir a dor e a ausência - de algo que nem eu sei o que é de fato - dentro do peito. Eu não queria estar triste, não queria ter lágrimas de dor na alma e sim lágrimas de alegria, mas, nada tem me dado alegria verdadeira por esses últimos meses. 
Eu procurava amigos para conversar, para tentar diminuir essa carga que existe sobre mim, mas notei que procurava pelas pessoas erradas. Apenas duas pessoas que conheço me disseram quem eu devia procurar, para quem eu devia contar meu problema a fim de resolver ou ao menos amenizar isso tudo, apenas duas pessoas, cada qual de sua maneira, me sugeriu procurar um profissional: Um psicólogo. 
Após estudos a respeito e depois de vencer minha relutância, procurei tal profissional. Foi constrangedor de inicio, porem muito instigador e de uma clareza para mim que de fato eu precisava daquilo. Foi muito bom. Foi-se proposto a mim continuar as sessões, uma terapia, pois meu diagnóstico havia sido o que eu já imaginava. Depressão.

Ninguém entende, ninguém acredita, quem me conhece diz que é frescura e que é bobagem. Eu li a respeito e vi que os que dizem isso em nada ajudam na melhora do enfermo. Sim, enfermidade, pois depressão é uma doença. Uma doença emocional e psicológica que tem sintomas físicos - o que explica meu súbito ataque de estômago e dores constantes nos olhos e nas costas.
Falar a respeito das coisas que me fazem mal e conversar com algumas pessoas que creio estar envolvidas nos meus motivos já não me adianta muito. 
Consequentemente, surgem pensamentos que eu não queria quer surgissem como a vontade de ir embora, a vontade de largar tudo e todos, o desejo de voltar atrás pra corrigir algo - mesmo acreditando que voltar seja o meu erro - eu... não tenho tido motivos de sorrir. 
Eu não tenho ninguém pra me ajudar, não tem ninguém que me faça ficar sã, sem essa doença. Alguns me ajudam, tentam, mas é falho e muito vago... não consigo entender e creio que nem eles compreendam.
Muitas coisas tem ocorrido ao meu redor, noticias, vidas a nascerem, alegria de meus amigos... eu tenho ficado contente por eles e mesmo assim tenho estado triste, não consigo compreender as coisas, a vida como funciona, as mudanças pelas quais estamos expostos, a evolução da espécie...
Eu não quero apenas me curar disso, quero primeiramente compreendê-la e depois tê-la fora de mim. Quero entender o porque dela surgir, dela crescer de forma tao abrupta e forte, quero saber como ela funciona e se propaga para que eu saiba lidar com ela e evitar com que ela retorne.

Eu não penso em suicídio, não penso em me cortar e nem em me afundar em drogas e/ou bebidas. Mas penso muito em fugir, física e psicologicamente desse atual momento. Sei que fugir não é o remédio, mas quero o fazê-lo para conseguir ter paz, pensar, chorar sozinha - coisa que mais tenho feito - e então retornar, entrar em alinhamento com minhas próprias ideias e vontades, me curar. Encontrar minhas diretrizes e abrir mão dos sentimentos e pessoas que, de forma desconhecida por mim, me fazem mal e dominam meu subconsciente com os surtos variados de emoção pelo qual me subornam. 

"Chove muito, chove excessivamente...
Chove e de vez em quando faz um vento frio...
Estou triste, muito triste, como se o dia fosse eu." - Álvaro de Campos

Tão complexo quanto a definição de 'angústia' dada por Freud, o tratamento sem o acompanhamento de um profissional - pelo qual, infelizmente, não estou mais subordinada - pode vir a trazer outras vertentes e novos distúrbios.
O que posso fazer para minha melhora eu estou fazendo, deixando as lagrimas rolarem o desfiladeiro de meu semblante, até porque "A lágrima mais pesada é aquela que não cai."



domingo, 14 de dezembro de 2014

Peça solta

Uma ovelha desprendida, desgarrada e desnaturada.
Talvez seja isso o que eu seja.
Um ser solto, porém, preso e sem raízes...

Um ser solto e sem muitos vínculos emocionais familiares. 
Desde muito cedo sou assim, ao que me lembro. Nunca fui muito de querer frequentar casa de parentes, nem gosto muito de estar enfurnada em suas residencias por muito tempo. Não vejo necessidade de mais nisso. Em visitas duradouras, em fazer peregrinação de casa em casa, tio, tia, avô, periquito do papagaio de tátara-tia-avó, etc...
Não sinto uma amizade por eles, que a verdade seja dita, não me sinto tão necessária em suas vidas. Me vejo como um ente querido que faz parte dessa pequena porção de sociedade, desse círculo familiar de convivência. E só. 
Não me sinto como um pilar para essa construção, muito menos como peça primordial - claro que também não me tenho como apenas uma poeira nesse chão - mas, não passo de uma pequena peça de porcelanato no piso da sala de estar, aquela do cantinho, sabe, bem debaixo do rack da tv, aquela que tem só uma pontinha aparente no ambiente. Quase ninguém vê, ninguém nem sequer nota a sujeira que existe nela, nem o brilho de quando está limpa. Vez ou outra, quando se modifica a disposição dos móveis da sala, pode-se notar sua presença, mas, são raras as vezes que se chega no local e sente-se sua ausência.
Sou grata pela vida de todos estes meus entes, por sua saúde e pela presença deles em minha vida, mas, não me sinto parte desse todo e muitas vezes tenho o desejo de sumir. Não para causar falta, dissimular saudades... não, mas sim para me encontrar. 
Admiro os que dizem "minha família é tudo para mim", "sem eles eu nada seria", "tudo o que sou e tudo o que tenho são eles...", acho lindo esse discurso. Meus parabéns pela oratória! 
Não que eu não seja assim, mas, de fato, não sou. Cresci desprendida. Sei do valor que essas pessoas tem em minha vida e que sem eles eu não estaria aqui, claro, e que muito eles tem me ajudado, que com eles eu sempre poderei contar e tudo mais... mas, deixar de viver ou deixar de fazer as coisas que eu quero e que acho boas/certas para mim estão fora de cogitação - até segunda chamada. 
Cada qual tem uma visão diferente. 
Se me surgisse AGORA uma oportunidade de ir embora, fazer minha vida fora daqui tendo que largar tudo e todos... eu iria. 
Eu iria sem o medo de voltar e não encontrar mais nada igual, pois saberia que o amor que eles tem por mim e o carinho que tenho por eles não se alteraria em nada. 
Saudades sempre haverão de existir. Normal, até porque, ninguém vive sozinho. 

"É impossível ser feliz sozinho..." - o digníssimo cantou.

Mas a minha verdade é que não tenho nada que me prenda - fisicamente e emocionalmente - nesse solo no qual estou. E que me sinto alguém fria e sem raízes ao dizer essas coisas, mas, sinto plena veracidade e sinceridade em minhas palavras.       
Sou uma peça solta, carta fora do baralho, uma peça de dominó perdida em meio ao UNO.